Diário
de uma
viagem
geológica


por
Valentina
Tong

Diário
de uma
viagem
geológica


por
Valentina
Tong


A viagem começa com uma pequena trilha que leva ao Tanque dos Poscianos. Do alto da Serra de Santana, vê-se, do norte para o sul, a vastidão do Seridó

Esse pedaço do sertão, entre a Paraíba e o Rio Grande do Norte, guarda na paisagem registros de sua formação muito antiga

No fundo do Tanque Azul, na Serra Verde, foram encontrados fósseis da megafauna pleistocênica

Casa de Pedra dos Ventos, na Serra Preta

O cacto candelabro
Na encosta da Serra de Santana, nasce o Rio Potengi - o rio grande do norte. Os arenitos que protegem a nascente são rochas sedimentares, formadas a partir da deposição de areias ao longo do tempo. O leito do rio segue por 170 quilômetros até desaguar no Oceano Atlântico, em Natal

Margeando a borda da Serra de Santana, um pouco mais ao sul, uma trilha leva ao Vale Vulcânico. Aqui ocorrem outros tipos de rochas, chamadas de ígneas ou magmáticas, formadas a partir da solidificação do magma. Do alto se vê as rochas erodidas da serra, que acumulam líquens e fungos e formam os depósitos de Tálus

No fundo do vale se vê a formação de basaltos de 25 milhões de anos. As rochas vulcânicas são formadas a partir do resfriamento do magma na superfície da terra. Quando consolidadas na profundidade, são chamadas de plutônicas

As disjunções colunares do basalto acontecem pela contração do magma derramado

Junto ao basalto que se desprendeu da coluna vulcânica, há outras rochas que foram trazidas para o vale: o xisto azulado formado a partir de lâminas comprimidas, o fragmento de pegmatito brilhante e o arenito ferruginoso avermelhado, um aglomerado de grãos de quartzo

O Cruzeiro de Currais Novos é um dique de pegmatito que foi solidificado no interior da terra. A lenta subida para a superfície o fez rachar para suportar a pressão; são as fraturas de alívio


Abraço de mandacaru e umburana; Açude na base do Pico do Totoró 

A força das águas do Rio Picuí continua esculpindo os quartzitos no seu leito há milhões de anos, formando o Cânion dos Apertados. Durante a seca, pode-se andar quilômetros pelo fundo do vale



A cada cheia, os quartzitos se reacomodam no cânion. A rocha metamórfica se forma quando a rocha original, o protólito, sofre transformações de pressão e temperatura, dando origem a uma nova rocha. Quartzitos normalmente tem como protólito os arenitos quartzosos

O Tungstênio Hotel foi construído no centro de Currais Novos nos anos 1950, durante o auge da operação da Mina Brejuí

A mina, ainda em funcionamento, é a maior concentração de scheelita da América do Sul. A scheelita é um mineral metamórfico de onde se extrai o tungstênio

Vila operária da Mina Brejuí

Seguindo ao sul em direção a Acari, encontra-se o açude Gargalheiras. Rodeado pelas Serras do Pai Pedro, do Minador, da Lagoa e das Cruzes, ele faz a contenção do Rio Acauã


Casa construída com as sobras de granito abandonadas na época da construção do açude. Para chegar lá, é preciso pegar a canoa na vila de Gargalheiras, cruzar o açude, ancorar na base da barragem e subir a pé a Serra das Cruzes

A barragem foi alocada no gargalo entre
Serra das Cruzes e Pai Pedro. A construção começou nos anos 1940 e hoje é um dos açudes mais importantes do Seridó

Dique, em geologia, é uma formação de rocha ígnea intrusiva. Um dique atravessa camadas ou corpos rochosos preexistentes. No leito do Rio Carnaúba é possível ver o granito cortando a rocha preta mais antiga, que se chama tonalito
Dique, represa ou açude fazem o represamento de águas correntes. A barragem de Gargalheiras se apoia sobre a base de granito da Serra das Cruzes. As fissuras no concreto aparecem pela contração e expansão da estrutura 


O granito é formado a partir do resfriamento do magma em camadas profundas da Terra. O processo é lento e permite que os cristais de quartzo e feldspato cresçam, criando uma textura em grãos distinguíveis a olho nu


O granito é encontrado nas bordas do Rio Acauã, principal afluente do Rio Seridó. Aparece bruto no centro de Acari e polido no Poço do Arroz, alguns quilômetros adiante, onde foram encontradas gravuras rupestres perto do curso da água

Itaquatiara é a pedra pintada, pedra escrita. Do tupi, significa itá: pedra; e coatiara: pintado, gravado, escrito, esculpido

As marmitas, ou caldeirões, são esculpidas pelo Rio Carnaúba. Os diques estreitos de granito são caminhos encontrados pelo magma que se acomodou na rocha hospedeira mais antiga


O Monte do Galo, em Carnaúba dos Dantas, é um lugar de peregrinação. Faz parte do grupo de pegmatitos da Província Borborema, datados em 520 milhões de anos

Castelo de Bivar, na rodovia RN-288, no caminho a procura de pinturas e gravuras rupestres

Itaquatiara em quartzito na Cachoeira dos Fundões

As pinturas da tradição Nordeste foram identificadas a partir da extensa pesquisa coordenada por Niède Guidon, na região da Serra da Capivara, no Piauí. Hoje aceita-se que foi de lá que a tradição Nordeste se estendeu para outras regiões: o vale do São Francisco, no município de Canindé, em Sergipe; a depressão sanfranciscana em direção a Central e Chapada Diamantina, na Bahia, e, mais significativo, a região do Seridó Potiguar, de onde se expandiu em direção ao nordeste da Paraíba

A arqueóloga Gabriela Martin explica no livro História da Pré-História do Nordeste que aqui surgiu a subtradição Seridó: “os grupos de caçadores que pintaram os abrigos enriqueceram a antiga tradição Nordeste com elementos novos, próprios de seu 'habitat', tais como pirogas cuidadosamente decoradas com desenhos geométricos, objetos, ornamentos e pintura corporal, além de representações fitomorfas que dão a impressão de 'paisagem'.”

Na base da Serra das Queimadas, em Parelhas,  as paredes rochosas direcionam o caminho das águas que sangram do açude Boqueirão

Metaconglomerados são rochas metamórficas formadas pela aglutinação de pedras de cores e texturas variadas

No sítio Mirador, mais adiante, há pinturas em metaconglomerados

Os blocos maciços de metaconglomerados são extraídos e exportados para uso ornamental na construção civil


Inselberg de granito, na margem esquerda da BR-427, marca o caminho ao sul em direção aos limites do Seridó Potiguar, quando se entra na Paraíba








Seridó Potiguar: Diário de uma viagem geológica é resultado de uma expedição realizada em 2021 ao Geoparque Seridó, Rio Grande do Norte. Todos os geossítios mencionados no relato são abertos para visitação. Esta publicação digital foi contemplada pelo Prêmio Marc Ferrez de Fotografia da Funarte. Este é um capítulo de um projeto de longo prazo sobre a paisagem geológica brasileira.

Fotografias, digitalização e edição: Valentina Tong
Revelação de negativos e cromos: Marcelo Guarnieri
Design: Alles Blau Studio: Elisa von Randow, Julia Masagão e Mariana Caldas
Consultoria: Marcos Nascimento
Apoio: Janaína Medeiros, Geoparque Seridó
Guias de viagem: Genilson Carvalho (Cerro Corá), Dilson Gonçalves (Acari), Neia Araújo (Parelhas),  Dean Carvalho (Carnaúba dos Dantas) e Ivan Simplício (Gargalheiras)






Seridó Potiguar: Diário de uma viagem geológica é resultado de uma expedição realizada em 2021 ao Geoparque Seridó, Rio Grande do Norte. Todos os geossítios mencionados no relato são abertos para visitação. Esta publicação digital foi contemplada pelo Prêmio Marc Ferrez de Fotografia da Funarte. Este é um capítulo de um projeto de longo prazo sobre a paisagem geológica brasileira.

Fotografias, digitalização e edição: Valentina Tong
Revelação de negativos e cromos: Marcelo Guarnieri
Design: Alles Blau Studio: Elisa von Randow, Julia Masagão e Mariana Caldas
Consultoria: Marcos Nascimento
Apoio: Janaína Medeiros, Geoparque Seridó
Guias de viagem: Genilson Carvalho (Cerro Corá), Dilson Gonçalves (Acari), Neia Araújo (Parelhas),  Dean Carvalho (Carnaúba dos Dantas) e Ivan Simplício (Gargalheiras)